Aldemar Freire e Anna Ruth Dantas Editoria de Política
O deputado estadual Robinson Faria, presidente da Assembleia Legislativa e do PMN, anuncia oficialmente que será o candidato a vice-governador na chapa da senadora Rosalba Ciarlini (DEM). Nesta entrevista exclusiva a TRIBUNA DO NORTE, o presidente da Assembleia Legislativa confirma o rompimento com a governadora Wilma de Faria e afirma que a alternativa de ser vice na chapa da oposição não é uma vingança contra a chefe do Executivo, mas uma interpretação do “sentimento das bases”. “Estou tomando uma decisão por convicção, não é por vingança. Eu sou um político que tenho percepção e tradição de ouvir o sentimento das pessoas”, destaca.
Emanuel Amaral‘Minha candidatura a vice de Rosalba Ciarlini é irreversível’
Durante uma hora, ele falou do projeto de ser candidato a governador, das decepções com a governadora e fez algumas revelações sobre fatos políticos. O deputado do PMN afirmou que a então candidata à reeleição Wilma de Faria, em 2006, colocou resistência ao nome de Iberê Ferreira para ser vice na chapa.
“Ela (Wilma de Faria) não queria Iberê. Lembro-me que quando sugeri Iberê ela resistiu. Iberê estava desmotivado para ser candidato a deputado federal, portanto, não foi demonstração de heroísmo ele aceitar o convite”, disse o deputado do PMN.
Sobre o deputado federal João Maia, presidente estadual do PR e hoje aliado de Iberê Ferreira, Robinson Faria afirmou que ele era o principal incentivador para romper com o governo Wilma, a quem considerava “muito desgastado”.
“Ele (João Maia) dizia que não queria ficar no governo, que esse era um governo desgastado, que não tinha nenhuma simpatia pelo projeto do candidato apoiado por Wilma”, disse o deputado. Robinson Faria evitou usar o termo traição ao avaliar o fato da governadora ter alimentado o projeto político dele e depois declarado apoio a Iberê Ferreira, mas disse que se considera “injustiçado” e deixa o julgamento para a opinião pública. Ele ressaltou que não se sente “devedor desse governo”. Para Robinson Faria, sua posição é de “credor” da atual administração. Sobre os cargos que indicou para a gestão estadual, o líder do PMN destacou: “Esses cargos sempre foram dela”. “Para demitir Jáder Torres (ex-diretor do DER) ela (a governadora) não combinou comigo. Ele foi demitido por uma mensagem de telefone. Se ela não combinou para demitir Jáder também não precisa combinar para demitir os demais”, frisou.
A seguir os principais trechos da entrevista concedida por Robinson Faria a TRIBUNA DO NORTE.
O senhor é candidato a vice-governador na chapa da senadora Rosalba Ciarlini?
Eu recebi o convite há vários meses do senador José Agripino Maia e, posteriormente, do casal, Rosalba e Carlos Augusto Rosado, testemunhado pelos deputados estaduais do DEM, que estavam presentes na conversa, e pelo deputado Raimundo Fernandes (PMN). Na época, eu ainda era pré-candidato a governador. Foi quando houve o episódio do nascimento dos meus filhos precoces (que ficaram internados por dois meses) e parei toda minha vida política de pré-candidato. Não dei resposta a esse convite. Disse. à senadora, que continuava candidato e iria pensar no assunto. Durante dois meses que fiquei no hospital com meus filhos, eles (senadora Rosalba Ciarlini e o senador José Agripino) me visitaram e perguntaram se eu já tinha resposta. Disse novamente que ainda não havia decidido. Quando retornei à minha vida normal (com a alta hospitalar dos filhos gêmeos) eu procurei o deputado federal João Maia, que tinha um acordo comigo de formar aliança para lançar um candidato, que poderia ser eu ou ele. Seria quem estivesse melhor nas pesquisas. Essa seria uma candidatura que se lançaria como via independente. Foi João Maia quem tinha me feito esse convite. Eu nunca cobrei dele para me apoiar. Era ele (João Maia) quem me incentivava à formação dessa aliança. Inclusive, algumas horas antes de um jantar em Brasília, da Unidade Potiguar com Wilma de Faria e Iberê Ferreira, João Maia me procurou no gabinete de Fábio (Fábio Faria, deputado federal), querendo já comunicar no jantar que ele iria me apoiar para governador. Eu disse: “Vamos ter calma, pensar um pouco mais, ouvir nossas bases”. Fui eu quem pediu calma a João Maia. E naquele momento (após os dois meses com os gêmeos internados no hospital), eu fui a ele (João Maia) e perguntei se estava de pé (a candidatura). Ele confirmou que estava de pé, mas vazou e o governo passou a procurar João Maia com uma série de cafés da manhã, almoços e jantares em Brasília. E João Maia refluiu de topar uma parada de via independente. Veja que João Maia era quem mais me incentivava a romper com o governo. Eu segurava João Maia. Ele (João Maia) dizia que não queria ficar no governo, que esse era um governo desgastado, que não tinha nenhuma simpatia pelo projeto do candidato apoiado por Wilma. Eu dizia para termos calma, porque poderia mudar. E isso (de João Maia começar a aproximação de Iberê Ferreira) me causou estranheza. João Maia, que nunca simpatizou com a dobradinha Wilma e Iberê, de repente se entendeu com eles. Não quero julgar as razões que o levaram a tomar essa decisão, mas me causou estranheza. Não posso ser líder para pensar só em mim. Não foi medo, não foi receio, não foi insegurança que me impediram de continuar candidato. Só que tenho que ter responsabilidade, tenho um grupo de deputados que precisam renovar o mandato. E outros (candidatos) que sonham em se eleger deputado ao meu lado. Em um voo solitário (para o governo), eu poderia prejudicar esses deputados. E aí pensei no coletivo. Não sou candidato de mim, sou candidato de um grupo, que tinha comigo um projeto político. Na parte do capital político, comprovei leveza, liderei a pesquisa o tempo inteiro entre os quatro nomes da base do governo. Mas, infelizmente, não consegui agregar apoio. Micarla não topou me apoiar, o PMDB não topou me apoiar e João Maia por último não aceitou. O que me restou foi reavaliar qual seria a melhor opção para mim.
Sua candidatura hoje a vice-governador de Rosalba Ciarlini é irreversível?
É irreversível. Minha candidatura a vice de Rosalba é irreversível. Digo isso com tranquilidade, porque não lutei para ser vice-governador. Trabalhei para ser governador, mas o destino não quis que eu fosse candidato a governador. Fui subestimado, desacreditado no meu sistema, minha lealdade não foi colocada na mesa da governadora. Wilma não foi uma líder. Líder é quem tem posição de isenção e não escolhe candidato por conveniência privada. Faltou ela ser uma magistrada. Ela perdeu a essência de líder quando foi pequena ao colocar um candidato debaixo do braço e mostrar sua força contra três colaboradores que foram fundamentais para ela ser governadora do Estado. Vou ser vice porque fui expulso (da base da governadora). Poderia barganhar mil coisas, não estou fazendo isso. Estou tomando uma decisão por convicção, não é por vingança, é por convicção. Eu sou um político que tem percepção e tradição de ouvir o sentimento das pessoas. O sentimento do meu povo, que me deu seis mandatos, todo é favorável a eu ter entendimento com a senadora Rosalba Ciarlini.
O senhor já fechou a chapa para o Senado?
Não sou cobra de duas cabeças. Sou contra esse tipo de comportamento. Se estou no palanque, estou na plenitude. Votarei e recomendarei votar na chapa fechada: Rosalba, Robinson, Garibaldi e José Agripino. Sou contra a dubiedade. Se o governo não me quis e eu fui valorizado por esse grupo que entendeu que meu apoio é fundamental, estarei apoiando a chapa total. Lógico que não sou dono de ninguém. Não sou dono das pessoas, mas minha recomendação é votar na chapa que eu faço parte. O Rio Grande do Norte tem que sepultar o político cobra de duas cabeças.
‘Houve orquestração maquiavélica’
O que o levou a escolher ser vice de Rosalba ao invés de de Iberê Ferreira, cargo que também foi oferecido?
Eu me sinto hoje uma pessoa com a consciência 100% tranquila. Não me sinto devedor deste governo. Vão querer passar para opinião pública que eu devo obediência, satisfação ou gratidão ao governo atual. O meu pensamento, com sinceridade, é que sou credor do atual governo. Em 2006, quando Garibaldi Filho estava 39 pontos na frente de Wilma, fui convidado para ser vice de Garibaldi. Foram seis convites, um em cima do outro, para eu aceitar ser vice de Garibaldi. Com todos esses convites, era proposta tentadora. Eu tinha um grupo de 30 prefeitos, cinco ou seis deputados estaduais. Fiz um trabalho de convencimento com eles para ficar com Wilma. Fiquei com ela por questão de coerência, para não manchar minha biografia. Fui leal, mantive minha coerência. Quando fui comunicar que iria ficar com ela (Wilma de Faria), estava na sala, eu, ela e Vagner Araújo. Ela ficou muito emocionada. Wilma estava sendo ameaçada por um comboio de adesões a Garibaldi. Estava quase uma sangria desatada contra a candidatura de Wilma. Ela precisava de um fato forte para retomar a candidatura e esse fato era minha adesão. Não cobrei, mas naquele momento ela disse que com o meu gesto eu me credenciava para ser candidato a governador. A partir daí sonhei e acreditei. Mesmo depois da vitória, ela me incentivou, me orientou. Os wilmistas passaram a me enxergar como sucessor dela. Em 2006, a diferença de Wilma para Garibaldi foi de 74 mil votos. Os deputados do PMN juntos tiveram 250 mil votos. Contra números não há argumentos. O nome de Iberê Ferreira foi uma sugestão minha para ser o vice dela. Ela (Wilma de Faria) não queria Iberê. Lembro-me que quando sugeri Iberê ela resistiu. Iberê estava desmotivado para ser candidato a deputado federal, portanto, não foi demonstração de heroísmo ele aceitar o convite de Wilma. Ele aceitou porque não queria mais ser deputado federal, admitia até ser candidato a deputado estadual.
Wilma de Faria quebrou compromisso?
Quebrou. Com Rogério Marinho (que tentou ser candidato a prefeito de Natal pelo PSB), ela teve uma saída (para justificar que ele não seria candidato), porque Rogério não viabilizou o nome, nunca passou de 8%. Comigo foi diferente, mesmo o governo trabalhando para um único candidato, o tempo inteiro liderei as pesquisas. Não tem mais a desculpa de que eu era pesado, de que era um fardo ou não havia viabilizado. Comprovei, demonstrei leveza. Em uma pesquisa da Vox Populi, o único nome com chance de enfrentar Rosalba era o meu. Ela quebrou compromisso quando tinha um candidato que foi crucial na sua vitória, leal em todos os momentos do governo e, por conveniência, ela optou por seu vice-governador. O mais grave de tudo isso foi o comportamento, a imprensa é testemunha. Todos os sinais do governo foram para fortalecer o candidato Iberê. Foram tentando me esvair para que eu me tornasse candidato fraco e aceitasse de forma submissa apoiar Iberê Ferreira. Foi montada uma trama, ela (Wilma de Faria) colaborou com essa trama, que saiu do laboratório do vice-governador. O que Iberê tentou fazer o tempo todo foi me expulsar. Em alguns momentos pensei em largar o governo mais cedo e Wilma ponderava comigo. Em crise minha com Wilma, Iberê sempre colocava mais fogo, instigava mais ainda. Outro dia ele disse que havia votado no meu filho. Fábio teve 200 mil votos, mas o apoio dele a Fábio arredondou 19 mil votos. Iberê esquece que ele hoje é vice-governador porque eu não fui ser vice de Garibaldi. Foi o PMN que deu vitória a Wilma. Iberê tem que agradecer a mim.
O senhor se sente traído pela governadora?
Não gosto de citar a palavra traição, ela é muito forte. Eu me sinto injustiçado. Acho que houve um gesto muito forte de ingratidão. Houve traição? Deixo que a opinião pública faça o julgamento.
Rompido com a governadora. E os espaços que o senhor indicou na administração?
Esses espaços são dela. Esses cargos são dela a vida toda. Na hora em que eu não quis indicar o novo diretor do DER ficou claro para ela e para opinião pública que eu não queria mais participar do governo dela. Para demitir Jáder Torres ela não combinou comigo. Ele foi demitido por uma mensagem de telefone. Se ela não combinou para demitir Jáder também não precisa combinar para demitir os demais. Se não demitiu talvez seja por alguma conveniência dela, não minha. Não pedi que ela mantivesse ninguém.
O senhor espera que essas pessoas entreguem os cargos?
Eu disse ao presidente da Caern (Walter Gazzi) que ele ficasse à vontade. Ele me disse que Wilma estava satisfeita com o trabalho, que era técnico e não político. Os cargos que ela têm são todos dela. Agora, é importante dizer que os cargos que eu tinha no governo são compatíveis com o que eu fiz pela sua vitória (de Wilma de Faria). Têm gente que está com cargo no governo, mas não votou em Wilma. Isso poderia ser colocado em questão. Hoje tem gente com espaço no governo maior do que meu grupo. Por que tanta cobrança dos cargos de Robinson? Eu estava na coalizão porque ajudei ela a se eleger. Na segunda-feira à noite, para entrar no segundo turno, encontrei três pessoas com ela, além de mim para começar a campanha. Eu, Fábio Faria, Rogério Marinho e Márcia Maia. Ela estava totalmente só no segundo turno. Outros nomes só chegaram para apoiar Wilma quando as pesquisas deram indicação para vitória.
Desses quatro nomes que o senhor citou que estavam na casa da governadora no início do segundo turno, só permanece com a governadora a filha dela, deputada Márcia.
Exatamente. É até estranho, mas é verdade. Acho que faltou isenção da governadora. Ela tem cultura de mulher de coragem, que gosta do enfrentamento, vem dando certo. Mas acho que se aproveitaram da cultura dela e ela foi muito envenenada para enfrentar Robinson Faria. Houve orquestração maquiavélica que desgastaram a minha relação com ela.
Sendo candidato a vice pela chapa de oposição, o senhor terá dificuldade para assumir um discurso crítico ao governo que apoiou durante sete anos?
Esse governo eu só fiz ajudar. Eu ajudei a aprovar na Assembleia quatro ou cinco Coserns. Garibaldi foi tão criticado por venda de uma Cosern e com minha articulação como presidente da Casa eu aprovei, de crédito para governadora Wilma de Faria, mais de R$ 2 bilhões. Só nos últimos meses foram mais de R$ 500 milhões.
No PP que o senhor lidera, o presidente estadual (Pedro Augusto Lisboa) declarou apoiar Iberê?
O PP praticamente não mudou nada. A posição isolada é de Pepeu (Pedro Lisboa). O vice-prefeito de Natal, Paulinho Freire, e o presidente da Femurn, Benes Leocádio, são do PP e apoiam nosso projeto. Até fico triste com essa posição de Pepeu porque é um amigo, quase irmão. Espero que ele faça uma reflexão e escute o sentimento do povo de Passa e Fica. Tenho esperança de que Pepeu irá rever esse posicionamento.
No final desse governo e no governo de Iberê as dificuldades poderão ser maiores na Assembleia?
Nunca partidarizei a presidência da Assembleia e não farei isso agora por revanchismo. Se for projeto importante para o Estado, serei o primeiro a ajudar a aprovar. Vou terminar o meu mandato com dignidade e não usar o meu cargo para ter benefício político eleitoral.