sábado, 30 de janeiro de 2010

Bases causam dificuldades para líderes políticos

Bruno Barreto

Editor de Política

As bases sempre servem para justificativas para mudanças de posicionamentos polêmicas dos líderes políticos. São elas que dão sustentação ao trabalho de deputados e senadores no interior do Estado no caso da eleição deste ano.

Por conta disso, é sempre comum um líder político afirmar que "vai ouvir as bases" antes de anunciar um posicionamento.

Durante muitos anos a política do Rio Grande do Norte foi polarizada pelo antigo PFL (atual DEM) e o PMDB, leia-se famílias Maia e Alves. Com a vitória de Wilma de Faria (PSB) para o Governo do Estado em 2002 houve uma verdadeira salada política no Estado. A atual governadora conseguiu reunir em torno de si grupos regionais com origens dos dois lados predominantes da política estadual.

A situação se agravou ainda mais quando os partidos que por mais de duas décadas disputaram espaços na política estadual decidiram se unir 2006 para recuperar o "status quo" de outrora. Isso provocou estragos em todas as cidades do Estado, sempre dividido entre "bicudos" e "bacuraus". Algumas lideranças aceitaram passivamente o acordo de líderes e hoje são defensores ferrenhos da união entre DEM e PMDB. Em outras houve dissidências para o agrupamento da governadora Wilma de Faria.

Graças a isso, a maioria absoluta das lideranças políticas do Rio Grande do Norte encontram dificuldades para trazer o seu grupo de forma coesa para os acordos fechados. Pesam as conveniências locais.

O assunto se tornou sensação na cobertura política na imprensa do Estado a partir do momento em que o prefeito de Passa e Fica, Pedro Lisboa, indicado pelo presidente da Assembleia Legislativa, Robinson Faria (PMN), para presidir o diretório regional do PP, disse que irá divergir do líder e votar no vice-governador Iberê Ferreira de Souza (PSB) para o Governo do Estado.

Essa é uma demonstração de que mesmo comandando o PP no ponto de vista prático, Robinson Faria não arrastará consigo a legenda para o palanque da oposição. Além de Pedro Lisboa outros expoentes do PP como os prefeitos Flávio Veras (Macau), Alberto Patrício (Alexandria) e "Souza" (Areia Branca) estão inclinados a subirem no palanque de Iberê. Além do vice-presidente estadual da legenda e líder político em Pau dos Ferros, Nilton Figueredo, dos principais prefeitos do PP ficam com Robinson na oposição o de Assu, Ivan Júnior, e o de Lajes, Benes Leocádio, que também é presidente da Federação dos Municípios do Rio Grande do Norte (Femurn).

O caso mais emblemático de falta de coerência entre a orientação dos líderes e a ação das bases é no município de Caraúbas. Lá o prefeito Ademar Ferreira (PSB) não vota no candidato do seu partido ao Governo do Estado. Seguirá com a oposição votando na senadora Rosalba Ciarlini (DEM). Já o partido da senadora, o DEM, será puxado pelo ex-prefeito Eugênio Alves (PR) para o palanque de Iberê. Tudo invertido.

O PSB também perderá para o palanque da oposição o apoio do prefeito de São Miguel, Galeno Torquato, que contrariando a fidelidade partidária trabalhará para Rosalba. Quem também segue a mesma lógica é o presidente do PSB em Florânia, Neto Oliveira, sob o argumento de que não pode ficar no mesmo palanque do prefeito local Sinval Salomão (PTB) que apoiará Iberê.

A senadora Rosalba Ciarlini também perderá o apoio do DEM em Parelhas e não pode nem reclamar de incoerência. A atitude é uma reação ao fato dela ter subido no palanque do prefeito Francisco do PT em 2008.

Recentemente o deputado federal João Maia, presidente estadual do PR, acertou apoio à candidatura de Iberê. No entanto, ele tem evitado confirmar a notícia em entrevistas. Ele ainda precisa solucionar impasses nos municípios. O principal deles é com o ex-prefeito de Assu, Ronaldo Soares, filiado ao PR há poucos meses. É João Maia que admite abertamente a dificuldade com as bases. Para ele nos tempos do "verde e do encarnado" as coisas eram mais fáceis. "Teve um tempo que era muito mais fácil, porque você tinha um lado, tinha outro lado e pronto. Hoje nós temos muitas dificuldades, não de apoiar Iberê, mas as realidades locais são muito diferenciadas", frisou.

O trabalho para formar a terceira via feito pelo ex-prefeito Carlos Eduardo (PDT) não tem sido fácil. O maior problema é em Mossoró, onde a legenda possui três vereadores. Ricardo de Dodoca e o presidente da Câmara Municipal, Santos dos Santos, dificilmente deixarão de apoiar a postulação de Rosalba. Jório Nogueira tem conversado abertamente com o Iberê. Até mesmo o deputado estadual Álvaro Dias, presidente de honra do PDT, já disse que se Carlos Eduardo abrir mão de ser candidato para apoiar Iberê ele e seu grupo político desembarca no palanque de Rosalba.

Incoerência entre bases e líderes também existe na capital. Em Natal, a prefeita Micarla de Sousa (PV) tem adiado uma definição o máximo possível. Por ela o seu grupo estaria pedindo votos para a senadora Rosalba Ciarlini, mas os pevistas reivindicam a vaga de vice que já foi negada publicamente pelo senador José Agripino (DEM). Por conta disso, nomes como os deputados estaduais Luiz Almir e Gilson Moura e o vereador campeão de votos em Natal Paulo Wagner defendem que o PV se mantenha na base governista.

Mau exemplo de “caciques” do RN impede cobranças públicas

Os líderes políticos do Rio Grande do Norte não podem reclamar. Eles também não são coerentes que eles fazem e a orientação nacional do partido.

No caso do vice-governador Iberê Ferreira, a questão é a mais dura de todas. Ele já disse que mesmo que o PSB lance o deputado federal Ciro Gomes para a Presidência da República, ele apoiará a petista Dilma Rousseff. Iberê não quer perder o status de candidato do presidente Lula e o apoio do PT.

A senadora Rosalba Ciarlini evita críticas ao próprio presidente Lula. Numa tentativa de se diferenciar da posição do seu partido e do seu líder político, o senador José Agripino, que são duros críticos do presidente. A senadora também tenta atrair para o seu palanque partidários do presidente.

O caso se repete com o senador Garibaldi Filho (PMDB). O PMDB possui seis ministérios no governo Lula. No entanto, o parlamentar apoiará a senadora para o Governo do Estado e a candidata Dilma Rousseff para o Governo Federal.

O PMN é da base do presidente Lula, mas o presidente da Assembleia Legislativa, Robinson Faria, ficará no palanque da oposição. O inverso acontece com o PPS. Em nível nacional o partido faz oposição ferrenha ao governo Lula, mas no Rio Grande do Norte o deputado estadual Wober Junior e o ex-senador Geraldo Melo estarão no palanque de Iberê Ferreira.

No PR, João Maia durante mais de dois anos manteve contatos e até cumpriu agenda com políticos do DEM e só no final de 2009 colocou a coerência como argumento para se manter na base do governo estadual.

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