domingo, 4 de abril de 2010

Agnelo Alves - O repórter: Escala governamental tem aspectos que o grande público desconhece

Tribuna do Norte
Cumpriu-se o primeiro ritual ditado pela Constituição com a posse do vice-governador, ante a renúncia da governadora. Acontece que o vice-governador precisa voltar a São Paulo para complementar tratamento clínico já iniciado com uma cirurgia de êxito reconhecido.

O normal previsto pela Constituição seria o vice-governador assumir como assumiu e, em seguida, garantido da sucessão, licenciar-se e voltar a São Paulo para continuar o tratamento, agora clinicamente, sem o trauma da temida cirurgia que já foi realizada com êxito.

No caso, então, seria convocado o presidente da Assembléia para substituí-lo. Acontece que o presidente da Assembléia é candidato a vice-governador nas eleições de outubro, não podendo assumir o Governo do Estado, salvo se fosse para ser candidato à reeleição, o que não se configura como caso em questão.

Quem assumiria seria o presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Rafael Godeiro. Nenhuma das duas estruturas na disputa eleitoral deseja ter o governo neutro. A estrutura, que é governo, deseja fazer usufruto dessa condição. Já o lado contrário, da oposição que não é oposição, não quer o governo neutro, porque não perde de vista a possibilidade de entrar na justiça, acusando a estrutura governamental do uso da “caneta” oficial.

A engrenagem

Se o vice-governador, já empossado no Governo, solicitar licença para complementar o seu tratamento em São Paulo, o quê seria normal, o Presidente da Assembléia seria convocado para assumir o Governo.

Mas terá que decidi sobre o dilema. Se não assumir, terá que renunciar a Presidência da Assembléia, perdendo a caneta poderosa. Se decidisse assumir, ficaria incompatibilizado para renovar, nas eleições, o seu mandato de deputado Estadual.

Se fosse para assumir em definitivo, presidindo as eleições de outubro, não poderia continuar na chapa do DEM como vice-governador. Mas – vejam os eleitores – poderá ser candidato a governador. A lei brasileira é incrível. Pode o maior, mas não pode o menor.

A Presidência da Assembleia

A Presidência da Assembléia tornou-se, assim, no posto-chave até que o governador já empossado volte de São Paulo restabelecido para, de mangas arregaçadas, só então começar a governar.

Tribunal de Justiça

Como é próprio da Justiça, ninguém se pronuncia, salvo nos autos. O Presidente Tribunal de Justiça não fala sob hipóteses, mesmo as previstas em lei.

Editorial

O fato do governador Iberê Ferreira de Souza ter assumido o Governo do Estado já programado para voltar à capital paulista, determinado a completar, clinicamente, o tratamento iniciado cirurgicamente, não deve significar a paralisação das atividades governamentais.

O recém-empossado governador já definiu sua atuação prioritária no Governo, a segurança pública e a saúde. Na segurança mudou o titular, o comando. Na saúde, outro setor neufrágico do governo, ainda não anunciou por onde vai começar. Não se pode negar o crédito de confiança.

O tempo de Governo de Iberê é muito curto, apenas nove meses. Desses meses, um pouco mais de um mês passará em São Paulo, na complementação clínica do tratamento que começou cirurgicamente. Caberá, essencialmente, ao seu quadro de auxiliares nos postos-chaves não permitirem a paralisação do governo, na espera do regresso do governador.

Hoje, com a tecnologia da comunicação em pleno desenvolvimento, vai ser permitido, ao governador, acompanhar o andamento do governo, não apenas através do telefone celular, de ligação instantânea, como até de forma visual, com os acréscimos tecnológicos via internet. Claro, nada substuirá a presença física. Mas, quando isto é impossível, use-se o que a tecnologia oferece.

Os primeiros dias decorridos após a posse não permitem um julgamento. O governo, aliás, vai permanecer com a cara do antecessor, no caso, antecessora. Somente após o regresso definitivo de São Paulo dentro de mais 40 dias o novo governador estará impondo o seu estilo e a sua vontade. Até lá, a máquina governamental não pode parar, espera-se.

Aguardar confiantemente.

Notas...

Mobilidade

É a nova palavra-chave. MOBILIDADE. Anotem os eleitores. MOBILIDADE.

Alcanorte

A Petrobras anunciou que vai mandar dois técnicos fazerem os levantamentos e os estudos de viabilidade da Alcanorte que morreu antes de nascer. “Mera coincidência”. O mesmo comportamento que teve em relação à refinaria de petróleo que está sendo construída em Pernambuco.

Turismo Natal – Europa

Para “compensar” a queda do turismo dos europeus para Natal, os natalenses estão fazendo turismo na Europa.

Emissário submarino

Forçoso reconhecer que o emissário submarino de Ponta Negra tem um poder atômico. Todo sistema de saneamento de Natal e de Parnamirim está atrasado em face do emissário. É bom ficar de olho na licitação, se houver. Os baianos são muitos fortes.

Pesquisas

Pelo “sistema boca-a-boca” são várias as pesquisas circulando no mercado eleitoral. A mídia não publica, nem mais com os derivativos de “escada”, “degraus”. No boca-a-boca, dependendo de quem, os números e porcentagens variam de acordo com a preferência.

... O que se diz...

...QUE não ficarão apenas nas mudanças de secretariado, as anunciadas pelo novo governador, nas primeiras horas do novo governo...

...QUE os secretários que permanecem nos cargos não devem ficar confiantes de que permanecerão...

...QUE, mesmo à distância, em São Paulo, o novo governador acompanhará a atuação de todos, podendo fazer uso do celular para demitir ou, simplesmente, deixar para a sua volta o quê amadurecerá durante a sua ausência...

...QUE, por enquanto, o novo governo permanecerá com a cara do governo antecessor, mas sob a advertência, hein? Até quando?...

...Caro leitor...

A revista ilustrando tanto quanto possível os 60 anos da TRIBUNA DO NORTE me deixou pensativo, motivado a acionar o meu departamento da memória para semanas antes do dia 24 de março de 1954. Impossível separar a saudade do tempo decorrido da confiança do tempo a decorrer pela frente. Do que reli e vi, relembrei pela ilustração dos muitos fatos de que fui personagem. De outros, fui testemunha. E ainda de outros, reportei. O tempo decorrido, 60 anos. Não quero destacar nenhum episódio. Sequer o de minha prisão e deposição da Prefeitura de Natal pelo qual pagou preço alto, também, o general vaidoso e medíocre que o protagonizou. Não logrou, a partir daí, nenhuma promoção. Também não exerceu um novo comando, exceto o de síndico do edifício onde foi morar, no Rio de Janeiro.

A alegria do primeiro exemplar naquele 24 de março, sucessivamente adiado do dia 19 para o dia seguinte, em face de dificuldades técnicas, as mesmas que fizeram adiar do dia 20 para o dia 21, passando ao dia 22 e consecutivamente ao dia 23, quando então Aluízio decidiu o dia 24 de qualquer maneira, incluindo aí ninguém dormindo e mesmo assim, só circulando no período da tarde. Não temos em nossos arquivos mais nenhum exemplar do primeiro número como “prova” de meu comprometimento, desde jovem, como “elemento subversivo contrário aos altos interesses do Brasil”. Ridículo? Hoje pode ser visto assim. Mas, na época, simplesmente trágico, não fosse todas as absolvições que logrei em todas as instâncias judiciais das Forças Armadas, sempre acima dos envolvimentos políticos relacionados aos militares que se colocaram a frente do golpe com o nome de “revolução”.

Na minha ficha constava até que ajudei a organizar uma “força paralela” ao Exército. Uns meninos de rua com fardamento verde-oliva.

Lembro Tancredo Neves perguntando ao doutor Ulisses Guimarães, enquanto aguardávamos todos a liberação da praça Gentil Ferreira para o grande comício do anti-candidato Ulisses Guimarães. A conversa foi no alpendre da casa do empresário João Olimpo Maia. “Ulisses, o quê vamos explicar às gerações futuras? Porque não fomos cassados também?” Amigo, os 60 anos da TRIBUNA têm tudo a ver com a minha vida. Quantas vezes a escrevi da primeira a última página? Quantas vezes, sem papel, proibido de nos ser vendido, circulamos com apenas cem exemplares e no dia seguinte divulgávamos que “a nossa edição de ontem foi esgotada?” Os tempos de chumbo, amigo. Hoje, tenho como maior comenda o título de cassado pela ditadura e o maior prazer em ter sobrevivido para comemorar os 60 anos da TRIBUNA e olhar para frente com a mesma confiança de quando iniciei como jornalista no primeiro exemplar que nunca nos foi devolvido.

Ah, os amigos e amigas, todos muito bem, obrigado. Um abração, NECO.

Estória da história

JK levou o PSD-RN a apoiar a candidatura de Aluízio Alves para governador

O Presidente JK tinha uma admiração, à distância, pelo então deputado, Aluízio Alves, vice-líder da bancada da ONU na Câmara Federal, redator-chefe da TRIBUNA DA IMPRENSA, amigo pessoal de Carlos Lacerda, com poderes, inclusive, de vetar artigos, mudar manchetes, enfim, como o próprio Lacerda costumava chamar Aluízio de “DBS” – Departamento do Bom Senso.

JK sabia como ninguém que Aluízio continha os arroubos mais radicais de Carlos Lacerda, vetando os artigos mais violentos, alguns dos quais reescrevia ou mandava para o recém-eleito deputado, José Sarney, reescrever. Lacerda tomava conhecimento quando a TRIBUNA DA IMPRENSA circulava. Uma prática que vinha desde os tempos do Governo Vargas.

Quando Aluízio e Lacerda foram a Londres conversar com Jânio Quadros como emissários da UDN, Aluízio notou que a cada Igreja nova que visitava, Carlos Lacerda ajoelhava-se e rezava com um fervor que não passava despercebido pelos circunstantes. Um dia, Aluízio perguntou a Carlos Lacerda porque tanto fervor.

“Sabe Aluízio, rezo pela alma de Getúlio Vargas” – respondeu Carlos Lacerda, acrescentando que não lhe movia nenhum remorso pela oposição que comandara contra o Governo de Vargas. Mas, sentia, interiormente, que o ex-presidente brasileiro, que se suicidara quando tomou conhecimento que os generais estavam chegando para depô-lo, precisava de orações e, portanto, ele fizera um propósito de todas as vezes que conhecesse uma Igreja o primeiro ato que lhe cabia cometer era ajoelhar-se e rezar pela alma dele, Getúlio.

Estávamos na calçada do Hotel Serrador, aguardando Aristófanes Fernandes, quando Aluízio foi chamado para atender uma ligação. Era Zé Aparecido, marcando um encontro na sede da UDN, ali perto. Eu ficaria no Serrador, aguardando Aristófanes e Aluízio foi ao encontro de Aparecido. JK queria que o PSD do Rio Grande do Norte apoiasse a candidatura de Aluízio ao Governo do Estado.

Já tínhamos conhecimento que Geraldo Carneiro, assessor mais próximo de JK, esteve conversando com Aparecido, de quem era primo, com aquele objetivo. Na conversa, estabelecida na sede da UDN, Aparecido queria comunicar a Aluízio que o ministro da Justiça, Armando Falcão, fora chamado por JK que o incumbiu das providências e conversações com o “major” Teodorico e o PSD do Rio Grande do Norte. Aluízio ligou para a portaria do Hotel Serrador pedindo que eu e Aristófanes fossemos ao encontro dele e de Aparecido na sede da UDN.

Aluízio não queria assumir pessoalmente, sozinho, uma posição, em face de sua condição de vice-líder da oposição na Câmara Federal. Nada a ver uma coisa com a outra. Aluízio já, inclusive, renunciara à vice-liderança para fazer a campanha. E para ganhar mais fácil precisava do apoio do PSD, já com uma dissidência enorme disposta a apoiar a sua candidatura. Aristófanes e eu demos apoio imediato.

Dali mesmo Aparecido marcou um encontro com Geraldo Carneiro. Fomos Aluízio, Aparecido, Aristófanes e eu. Desse encontro, resultou uma ligação telefônica para o ministro Armando Falcão que deveria chamar Teodorico, comunicando a decisão do Presidente JK. Teodorico ainda resistiu. Mas, o desejo de JK era respaldado pela dissidência pessedista formada por Aluízio Bezerra, Olavo Montenegro, Seráfico Dantas e, de uma maneira discreta, pelo monsenhor Walfredo Gurgel, Lauro e Juanita Arruda, além de tantos e tantos outros pessedistas do Rio Grande do Norte. A reunião do PSD foi na casa de Rui Paiva, também dissidente para apoiar Aluízio, desde quando Aluízio se declarou candidato.

Aluízio deu uma demonstração clara e pública de prestígio ao PSD, escolhendo para seu candidato a vice-governador o monsenhor Walfredo e, numa noite de inverno, saiu de Angicos para a fazenda de Teodorico, em Santa Cruz, acompanhado de Aluízio Bezerra e Olavo Montenegro, para selar o apoio do PSD.

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