segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A volta do radicalismo? Azedam as tentativas de sucessão

As declarações do engenheiro Jader Torres, ex-diretor do DER, soam como um estrondo, com visibilidade para o radicalismo violento na campanha já antecipada, tendo o governo do Estado como troféu. Acionando o ânimo do diretor demitido por ineficiência, está o deputado Robinson Faria, presidente da Assembléia Legislativa e pré-candidato ao governo do Estado, que o havia indicado para o cargo.

Por outro lado, em voo rasante, surge no ar o nome do deputado federal Henrique Eduardo, ligando duas pontas do processo sucessório. A união do PMDB, dividido gravemente entre ele e o senador Garibaldi, numa consequência lógica de um partido sem nome próprio para o governo do Estado e já parece pequeno demais pra caber duas lideranças poderosas, mesmo tratando-se de dois primos-irmãos, quase siameses.

Por enquanto – e o tempo correndo – permanecem como pré-candidatos ao governo do Estado a senadora Rosalba Ciarlini, pelo DEM, o vice-governador Iberê Ferreira, sem que o partido, PSB, o tenha lançado ainda, o deputado João Maia, do PR, o deputado Robinson Faria, pelos PMN/PP e o ex-prefeito de Natal, Carlos Eduardo, do PDT, cada um com suas credenciais políticas e eleitorais. A falta de um critério para a escolha de um nome atrapalha a vida de todos, com exceção do nome de Rosalba, que, mesmo não fazendo oposição é candidata da “oposição”.

Credenciais de cada pré-candidato

Sem critérios definidos para a escolha, dentre os tantos pré-candidatos, o que aparece no cabeçalho da mídia:

ROBINSIN FARIA, presidente da Assembleia Legislativa, tido e havido como, politicamente, o cabível. Domina dois partidos, o PMN e o PP, temporariamente forte e, por essa razão, é chamado de “coronel” com o orçamento da Assembleia de milhões de reais sobrando pelas janelas.

JOÃO MAIA, deputado Federal, marinheiro de primeira viagem, foi secretário de Estado no primeiro mandato do governo de Wilma de Faria. Disputou troféu de o mais votado, com o também estreante Fábio Faria, filho do deputado Robinson Faria, representando os dois – João Maia e Fábio – 400 mil votos nas urnas.

CARLOS EDUARDO, como deputado Estadual, quatro vezes, foi líder do governo Garibaldi Filho, de quem foi também secretário de Estado, líder na oposição do governo de José Agripino. Foi prefeito de Natal em dois mandatos, sendo a sua administração muito bem avaliada. O seu partido, o PDT, filia-se à oposição pela atuação do deputado Álvaro Dias. Aparece nas pesquisas como o segundo colocado em todo o Estado, logo depois de Rosalba. Não tem apoio político, entretanto e não tem feito campanha. Só tem apoio eleitoral conforme as pesquisas. Mas, seu nome aparece, espontaneamente, em segundo lugar. A última pesquisa conhecida é a do IBOPE.

IBERÊ FERREIRA DE SOUZA, vice-governador e que deverá assumir o governo do Estado dia dois de abril, posicionando-se como candidato à reeleição no pleito de outubro seguinte, sete meses depois de sua posse. É secretário de Estado na pasta que apresenta maior volume de recursos financeiros. Tem o nome anunciado e adiado desde 12 semanas passadas.

Cadê o anúncio?

A cada terça-feira da semana, os releases começam a chegar nas redações, dizendo que a governadora lançará, no final de semana, o nome de Iberê como candidato da “Base”. Tantas vezes anunciado, quantas terças transcorridas, de três meses a esta desponta a possibilidade do anúncio, mas, de fato, não acontece. Salvo se tiver acontecido sexta-feira ou sábado, anteontem e ontem, ou acontecerá hoje, domingo, mais um. Fatível que não.

Opinião pública distante

A imprensa tem dedicado a terceira página de cada edição ao noticiário político. Haja trabalho para preencher tanto espaço. A máquina governamental é a maior produtora e fornecedora de matérias e fotografias, havendo mesmo entre os diretores de redação uma linguagem de computador definindo esse tipo de notícia como “control-c”, “control-v”. Só indo para as páginas de informática para saber o que vem a ser isso, o que prova que a tecnologia também complica, quando foi criada para descomplicar.

A verdade é que, apesar desse esforço e dessa complicação e também do esforço mantendo o noticiário constante sem notícia, além das colunas sociais transformadas em colunas políticas, a opinião pública se mantêm distante do que chamam de arrotos em cada almoço e jantar noticiados, assim como o suculento cardápio servido... A opinião pública se mantêm alheia aos fatos políticos.

Nome de Henrique Eduardo

Neste final de semana com seu prestígio no cenário nacional, surgiu o nome do deputado federal Henrique Eduardo Alves, indo além do seu desejo de permanecer deputado para ser presidente da Câmara Federal. Garibaldi refluiria do apoio, manifestado reiteradas vezes, ao nome da senadora Rosalba Ciarlini, do DEM? Esperar para ver.

As conversas entre os dois – Henrique e Garibaldi – neste fim de semana poderão ser um indicativo do sim ou do não. A dissidência política “desserve” a ambos. Um eventual bate-chapa na convenção do PMDB reduzirá o partido, que já foi o maior desde a redemocratização, em uma expressão mínima como representação da opinião pública do Rio Grande do Norte. O nome de Henrique terá a força para contornar?

A semana promete.

Volta do radicalismo

A definição dos quadros políticos para 2010 está muito longe de acontecer. Mas, o nome de Henrique, se aceito por Garibaldi, provocará uma espécie de reviravolta política de todo inesperada. Uma reviravolta maior do que as declarações do diretor demitido do DER, engenheiro Jader Torres, com a provocada volta do radicalismo político.

Estória da história: A campanha da Cruzada da Esperança, Aluízio e Monsenhor Walfredo (Final)

Teria muito o que reportar, ainda, sobre a campanha da Cruzada da Esperança liderada pela chapa Aluízio/Monsenhor Walfredo Gurgel, eleitos governador e vice, em 1960. Ouso repetir o que ouço de quantos dela participaram direta ou indiretamente, com as responsabilidades de dirigentes partidários ou simples eleitores, que nunca mais o Rio Grande do Norte terá um ciclo tão vivo, tão expressivo da participação popular como o que Aluízio, governador do Estado, realizou e pela postura política em repercussão nacional, duas vezes ministro de Estado, como homem do século do Rio Grande do Norte.

Comecei reportando todas as sucessões governamentais pós a redemocratização de 1945 e posteriormente pós-regime autoritário dos militares, em 1985, provocando “cismas” e “rachas” nos partidos, alianças, líderes e adeptos. Evidenciando, em seguida, a campanha da Esperança, pelo estilo que consagrou Aluízio na criação e participação popular de eventos governamentais durante o seu governo e pelo seu estilo cumpridor de todos os compromissos renovadores, avançados e anti-revolucionários, fugindo ao tradicionalismo, ao convencionalismo, eternizando a memória do seu incrível carisma.

Foram três reportagens recorrentes da memória, sem anotação, como é próprio do meu estilo jornalístico. Mas os leitores, através de diversos meios de comunicação, hoje disponíveis, manifestando apelos para prosseguimento, me fizeram escrever este último capítulo, digamos assim, para não parecer, o que não se justificaria, as minhas memórias desinteressantes e desprovidas de qualquer interesse, válidas, apenas, como depoimentos ou testemunhos da inesquecível campanha popular.

Domingo passado prometi reportar como conheci a figura importante do candidato a vice-governador, o Monsenhor Walfredo Gurgel, seridoense de boa têmpora, religioso sem pieguice, homem público parecendo mandado realmente por Deus para compor com Aluízio a liderança de uma era positiva do Rio Grande do Norte. Foi Manoel Brito o emissário de Aluízio junto ao Monsenhor para saber se topava uma Cruzada da Esperança e da Fé, pregando o que os norte-riograndenses ansiavam, todos prometiam, mas nenhum realizara antes. Aluízio estava em Currais Novos e encarregou Brito da missão em Caicó, onde estava o Monsenhor Walfredo. Aceitou.

Era meio caminho andado. A partir daquele instante, a construção. Mas só vim conhecer o Mosenhor Walfredo Gurgel no “Trem da Esperança”. Logo após a partida de Natal, eu estava ultimando as providências para a comunicação a TRIBUNA DO NORTE, quando pressinto a chegada do padre. Faço o sinal de saudação, correspondido pelo Monsenhor, que foi logo adiantando que estava curioso em me conhecer, tanto já ouvira falar ao meu respeito.

– Espero que tenham sido informações boas, Monsenhor.

– Muito boas em relação ao seu talento, o poder de engenharia política (ouvi pela primeira vez essa expressão: “engenharia política”) e grande estrategista, mas impiedoso com os adversários – disse o Monsenhor Walfredo.

Quis detalhar a conversa. Mas, o Monsenhor atendeu a um chamado de Aluízio e saiu para a plataforma, acompanhando-o. Retomamos o assunto. Ele confessou que tinha brincado. E expliquei a necessidade de planfletar de acordo com os interesses da campanha.

– E aí, Monsenhor? Sou qual ou... perguntei.

– Não quero tê-lo como adversário, respondeu.

Fomos amigos até o seu último dia de vida. Eu, admirando-o. Ele, indulgente para comigo.
Agnelo Alves

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